sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Realidade da água que se consome no Marajó

A vida no campo de missão tem muitas bençãos mas também tem dissabores.
Por incrível que possa parecer, porque o Marajó é um arquipélago enorme, maior do mundo banhado pelos rios, nosso calcanhar de Aquiles na missão é a água.

Dese que iniciamos a nossa missão há quase quatro anos na cidade de Breves, sempre sofremos com ela e naquela cidade levamos mais de dois anos para obter uma água de qualidade, não porque a companhia de Saneamento do Pará fizesse algo de útil para o povo, mas porque negociamos com a paróquia de Sant'Ana e ligamos a rede de distribuição de água de nossa casa ao poço artesiano do Centro de treinamento Tagaste, que pertence a Prelazia do Marajó e é administrado pela paróquia.

Já em Afuá, continua o mesmo drama, falta de água constante em nossa primeira casa, tínhamos que pegar água com os vizinhos. Mudamos de casa, fizemos as ligações corretas, caixas d'água todas preparadas e volta o antigo problema.
Aproveitamos para mostrar a situação, não só da água, mas da falta de saneamento da cidade de Afuá.
Lembramos que as casas são necessariamente suspensas por causa da maré lançante que constantemente invade a ilha. 
O lixo aparente sob as casas não necessariamente foi lançado por esses moradores, mas se desloca por sobre as áreas alagadas da cidade.

O relato baixo é de Virtes Romani, missionária, coordenadora da Missão Marajó Afuá, falando sobre os últimos dias sem água nessa cidade. As fotos que publicamos, podem causar nojo e repulsa em quem vê, mas é o mais puro retrato do descaso da COSANPA e outros órgãos públicos que deviam zelar pelos cidadãos:


Realidade dura com a água também aqui em Afuá.

Depois de 8 dias sem água em nossa casa, buscando água com nossa vizinha, que gentilmente nos cedeu, encontramos o problema, fomos até a COSANPA pelo menos três vezes reclamar e, enfim,  apareceram pra diagnosticar o problema.

Como os canos ficam bastante expostos e sempre dentro da água, ou melhor,  da lama melhor dizendo tem uma hora que não resiste e se rompe. Então o cano rompeu mas, ninguém consegue entrar debaixo da casa, ela é suspensa mas não tanto, e além do mais, é lama e lixo acumulado que tem embaixo da casa.

Foi uma luta de uma manhã inteirinha de dois funcionários da Cosanpa, além de Carlos Ronam, missionário da casa, para deixar os canos novamente com água corrente. 

É triste ter uma água de tão péssima qualidade,  além de ter o abastecimento suspenso tantas vezes,  ter tanto trabalho,  a água "tratada" chega com muita lama em nossas casas.

O risco de adquirir uma doença é muito grande, não somente bebendo a água mas também para o banho e outras necessidades.

Ficamos felizes com a volta da água em nossa casa, mas não concordamos com a qualidade dela. Infelizmente é a realidade de quase todo o Marajó. Enquanto as autoridades não olharem para o povo com a devida atenção,  viveremos com as migalhas que nos sobrarem.

Como diz nosso amado bispo Dom José Luiz Azcona:  "Na Europa, nem os cavalos bebem esta água, pois a sociedade protetora dos animais gritaria" enquanto isso, no Marajó, o nosso povo é obrigado a beber a água ou das valas e igarapés.


"Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos? E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer". (Mateus 25, 41-45)

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